sexta-feira, agosto 04, 2006

Pricing do futebol

Ainda não há muito tempo, via com um amigo uma cassete de vídeo que achei uma verdadeira relíquia: um domingo desportivo (não posso precisar a época, mas seguramente de finais dos anos 80). Nessa cassete o resumo da jornada punha frente-a-frente Beira-Mar e Varzim no antigo Mário Duarte. Para além de rever alguns nomes que me habituei a ver na minha infância, outra coisa me chamou a atenção: o estádio estava cheio. Pergunto então, o que foi feito dessa gente que num Domingo à tarde ia assistir a uma partida de futebol. Colocando a questão de outra forma, quais as causas do divórcio entre o futebol e os adeptos. Ao longo dos últimos anos temo-nos habituado a ver equipas jogarem perante 500 ou 600 pessoas. Será isto sustentável para algum clube?

É sabido que hoje em dia as receitas de bilheteiras apresentam uma reduzida percentagem das receitas dos clubes, mas não deixa de ser preocupante pensarmos numa actividade que anda de costas voltadas para quem a sustenta: os adeptos. A televisão é uma razão válida para este divórcio? Talvez. Uma vez que o Beira-Mar esteve na segunda divisão a época passada, pensei em ir ver um jogo perto nomeadamente o Naval-Benfica. O preço do bilhete andava na casa dos 45 euros, para ver um jogo à chuva. Solução: ver o jogo na televisão. Consequência: o jogo teve cerca de meia casa. As técnicas de princig são das variáveis mais relevantes em qualquer gestão, embora sejam feitas no futebol com um amadorismo gritante. Quer isto dizer que, face à completa desadequação do preço de um bilhete de futebol em função do rendimento interno, a televisão acaba por ser uma alternativa válida.

Nesse sentido, gostaria de saber o que foi ou está a ser feito pelo Beira-Mar para atrair gente ao estádio. Um estudo recente publicado no Diário de Aveiro mostra que o Beira-Mar é o principal clube na preferência dos adeptos da região, ou seja, há massa crítica disposta a assitir um jogo de futebol para além das tradicionais 5 mil pessoas (num dia razoável). Outro estudo publicado n'A Bola, mostra que Portugal tem comparativamente com os outros países da Europa, os bilhetes mais caros para um jogo de futebol (cálculo efectuado num rácio preço de bilhete/rendimento médio per capita). Como é isto possível, sendo o espectáculo em si muito pior do que o que se assiste fora de portas. Gostaria de ter visto na minha caixa de correio publicidade do clube com preços de bilhetes, promoções para famílias, protocolos com escolas e Universidades, enfim, uma série de medidas que seguramente teriam efeitos positivos ao longo da época. Não basta olhar para dentro das quatro linhas e pensar que está aí a solução para tudo. Há toda uma comunidade fora do campo que pode servir de âncora para o crescimento do clube.

Nota: Há dois anos fui com uns amigos ao estádio ver o Beira-Mar x Rio Ave. Faltavam 10 minutos para terminar a primeira parte, e ainda estava na fila à espera que eles comprassem bilhete. Conclusão: mesmo tendo comprado bilhete de época vim-me embora porque eles, compreensivelmente, não estavam dispostos a pagar um bilhete para ver meio jogo. O ano passado assisti igualmente a algumas situações incompreensíveis de tempo de espera para comprar bilhete. De uma vez por todas resolva-se esta situação, que em nada ajuda na imagem do clube.

3 comentários:

Nuno Q. Martins disse...

Caro Francisco Dias;

Partilho da mesma preocupação que já não é de agora.

Em 2000, quando juntamente com alguns amigos fundei os Ultras Auri-Negros, já sentia nessa altura que o Beira-Mar se tornara um clube quase indiferente para a população aveirense.

Os dados que existem sobre a queda das assistências dos clubes "não grandes" são inequívocos e explicam-se por diversos factores, alguns deles bem apontados no texto.

Há cerca de três anos, numa Assembleia Geral do Beira-Mar que se realizou no salão dos Bombeiros, interroguei a direcção de então sobre as medidas concretas que tinham para atrair público ao Mário Duarte.

Na época passada, incentivei a actual direcção a desenvolver uma campanha junto das escolas dos concelhos de Aveiro e Ílhavo com o objectivo de promover a vida desses jovens ao futebol e dos seus pais.

Várias vezes sensibilizei a antiga e a actual direcção do Beira-Mar para a necessidade de se praticarem preços de bilheteira acessíveis e que não excluam os "não-sócios". Na época passada, o Beira-Mar teve os preços mais acassíveis das competições profissionais de futebol: 2,5€ para o público em geral!

Serve isto para dizer que, em termos de política de preços, considero que o Beira-Mar hoje é um clube "popular". Agora importa apostar na qualidade dos espectáculos e na sua promoção por forma a conquistar a grande massa populacional que reside em Aveiro mas não é Beiramarense.

Cumprimentos.

Francisco Dias disse...

Caro Nuno,

De facto os preços dos bilhetes verificados a época passada foram bastante apelativos, e por isso o Beira-Mar conseguiu casas bem interessantes, mesmo quando comparadas com equipas da primeira liga. Compreendo igualmente a preocupação da direcção em não penalizar os sócios, ao ponto de compensar ser não-sócio para ter bilhetes mais baratos.

Estando então de acordo sobre o problema, que é real, julgo que pouca coisa continua a ser feita no sentido de identificar a população da região com o clube. E em grande parte isso poderia ser conseguido em acções junto das escolas. Atrair os mais jovens ao clube será benéfico no presente, até porque estes arrastam os pais consigo, e no futuro, porque estes irão trazer consigo os jovens de amanhã.

Concluindo: acredito que alguma coisa tenha sido feita, mas parece-me que tem sido insuficiente.

Um abraço,

Francisco Dias

Francisco Dias disse...

Caro Pedro Cruz,

Obrigado pela sua participação. A questão é de facto relevante, uma vez que está em causa o poder democrático do país. É uma realidade que os deputados que de 4 em 4 anos andam na rua a pedir o nosso voto, falham constantemente às resposabilidades para as quais estão mandatados: exercer o seu cargo de deputado na Assembleia da República. E isto acontece perante a passividade de todos nós.

O caso que refere trata-se pois, de mais um exemplo de como é encarado o cargo de deputado. Sejamos honestos, é impossível estar em 2 locais ao mesmo tempo, e, portanto, ou se opta pelo cargo político ou pelo cargo na Liga. Estamos inteiramente de acordo.

É caso para dizer que mesmo antes de começar, já é um mau começo.

Saudações,

Francisco Dias